17 dezembro, 2008

MISSÃO POSSÍVEL 3: MADAGÁSCAR X

"05h00, 14 de Dezembro de 2008, Aeroporto de Orly Paris

Bon Jour!

Os últimos 2 dias na capital passaram muito rápido. Nunca fui muito fã das grandes cidades e Tana em particular não tem muito interesse comparado com o resto do país. No entanto depois de várias semanas a viajar pelas zonas remotas do Madagáscar, é curioso ver uma realidade completamente diferente. Existe uma grande manifestação de riqueza que partilha a cidade com inúmeros pedintes e sem-abrigo. No último dia vagueei sem destino pelas ruas da cidade despedindo-me de tudo. Ainda encontrei o palácio real construido no ponto mais alto da cidade, e o grande mercado onde fiz as últimas compras.
 

Agora falta muito pouco para chegar a Portugal. Durante o longo voo de 11 horas entre Antananarivo e Paris, tive tempo para refletir sobre tudo o que vivi durante o último mês. Comparo com os outros países que visitei mas não é preciso muito para perceber que Madagáscar é completamente distinto.

É fácil saber que existem locais no Mundo onde as pessoas vivem sob condições de vida muito básicas em zonas remotas muito difíceis de alcançar, mas nesta viagem tive oportunidade de presenciar e perceber o que realmente isso significa. Madagáscar é um mundo completamente diferente do que eu conhecia e do que conseguia imaginar. São vários detalhes juntos que fazem a diferença.

Um muito simples por exemplo é a ausência de electricidade. Na maior parte das localidades, mesmo nas pequenas cidades, a electricidade existe apenas para alguns privilegiados que possuem um gerador e este apenas é ligado nas primeiras horas da noite. A frase habitual “Português? Ah, Cristiano Ronaldo!” não foi assim tão habitual, e foi exclusiva apenas das grandes cidades. Pois como não há electricidade, também não há electrodomésticos, televisão nem qualquer tipo de informação. Encontrei muitos sítios que fazem negócio, montando uma pequena sala de “cinema” com uma pequena televisão. Vídeo clips e antigos filmes de acção americanos são os mais populares. Sem luz, é o sol que dita as horas de dormir e acordar. O meu horário habitual nestes dias foi deitar às 20h e acordar às 6h.

Também não existe água corrente. Por isso nos rios encontrei sempre pessoas a lavar a roupa, lavar a louça, e tomar banho. Em quase metade dos hotéis onde fiquei hospedado o banho era simplesmente um grande balde e uma caneca, muitas vezes com água turva. Nem vale a pena falar em computadores e internet pois praticamente não existem. As casas são muito pequenas e simples, construídas apenas com a madeira disponível nas florestas.


No entanto não posso dizer que fiquei muito chocado. Não encontrei ninguém que aparentemente passasse fome. O forte cultivo de arroz criou o hábito de três refeições diárias de uma enorme tigela de arroz, uma quantidade demasiada até mesmo para mim. Pelo menos a quantidade não é um problema. As mangas e outras frutas caem das árvores prontas a comer. Mais do que uma vez cheguei mesmo a ter que me abrigar de uma chuvada de mangas provocada por uma rajada de vento.

As pobres condições de vida não parecem afectar também a boa disposição do povo de Madagáscar. Encontrei um povo muito curioso, amigável, prestável, e simpático. De facto esta foi a viagem em que mais convivi com os locais. Talvez o facto de quase todos falarem francês tivesse ajudado também. O meu francês não é muito famoso mas foi relativamente fácil comunicar.

É difícil imaginar que restam apenas 10% das florestas tropicais que existiam antes do aparecimento do homem na ilha. E difícil de aceitar que uma grande parte das maiores espécies animais foram extintas, incluindo o pássaro elefante, a maior espécie de aves de todos os tempos com 3m de altura.

Talvez os outros países de Africa sejam parecidos com Madagáscar, mas para mim foi uma experiência única. Se o início da viagem é uma altura de entusiasmo e ansiedade, o final da mesma provoca precisamente os sentimentos opostos. Na verdade também tenho alguma vontade de regressar.

Existem muitas fotos e experiências para mostrar e contar à família e amigos. Dores de garganta e um pouco de febre nestes últimos dias mais um dedo do pé infectado que teima em não recuperar desde a visita à ilha de Sainte Marie também me faz desejar o conforto do meu lar.

Mas estimulado por uma experiência destas, a vontade mesmo é de continuar a viajar. Mais uma vez prometo a mim próprio que vou fazer algo por isso, apesar de saber que a rotina espera-me já segunda-feira."


- Filipe Tavares

15 dezembro, 2008

MISSÃO POSSÍVEL 3: MADAGÁSCAR IX

12h45, 11 de Dezembro de 2008, Aeroporto de Maroantsetra

Salama!
 

A planta de Baunilha, originária do México, foi introduzida na ilha de Madagáscar pelos Franceses. O clima sempre quente e húmido da costa nordeste da ilha é muito propício ao seu cultivo e actualmente Madagáscar é o maior produtor de baunilha do mundo. Por esta razão a costa nordeste do país é conhecida pela costa da baunilha. A sua produção trouxe alguma prosperidade a esta zona mas nem por isso trouxe algum desenvolvimento. Continua a ser uma das zonas mais remotas e difíceis de viajar.


Quase no fim da minha viagem, não é a melhor zona para se estar com todos os dias contados, de qualquer maneira aventurei-me com a segurança de poder viajar de avião caso fosse necessário. Mesmo as visitas aos parques naturais desta zona requerem vários dias e as viagens são tão difíceis e demoradas que passei a maior parte do tempo em viagem. No final, nem perto estive de completar o meu plano de chegar ao norte do país, mas nem por isso foi uma experiência menos interessante.


Sai de barco da ilha de Sainte Marie bem cedo e procurei a Route National 5, a estrada nacional que percorre a costa até Maroantsetra.
Eu não fazia ideia da regularidade dos taxi brousses nesta estrada nem se viriam com lugares vagos mas a minha ideia era apanhar boléia de alguém caso não conseguisse transporte. Após 3 horas descobri que nenhum carro particular passava naquela estrada. Apenas meia dúzia de Tac-Tacs por dia, os taxi brousse versão todo terreno, os únicos capazes de fazer este trajecto apinhados de pessoas e mercadorias.

Finalmente consegui um lugar de primeira classe ao lado do condutor mas a viagem não foi fácil. Para arrancar o carro, era necessário sairmos todos para empurrar. O tempo de viagem é imprevisível e quando anoitece a viagem é suspensa até o amanhecer. O semelhante acontece com as travessias dos vários rios. Se a maré não estiver favorável pode ser necessário esperar várias horas. Para fazer apenas 80Km demorei 2 dias, troquei de Tac Tac 2 vezes por causa de avarias e mesmo o último chegou a parar 2 vezes.

Praticamente fiz os últimos quilómetros a pé, felizmente bem no meio da floresta tropical do parque nacional de Mananara-Nord. Foi um bom passeio pelas várias aldeias rurais e um bom convívio com os outros meus colegas viajantes.
Finalmente em Mananara, dispensei um dia para recuperar forças, visitar a pequena cidade, e também uma ilha fluvial habitada por centenas de lemures.

Preparar os próximos passos não foi fácil também. Num momento tinha à disposição um barco e vários Tac Tacs para prosseguir viagem até a próxima cidade de Maroantsetra. Depois de comprar o bilhete de avião de lá para a capital, o barco avariou e afinal os Tac Tacs vinham com um dia de atraso. Já ponderava comprar uma bicicleta para continuar quando me disseram que havia um senhor importante na cidade que ia fazer a viagem até Maroantsetra. Pedi-lhe boleia, ele aceitou, e só depois é que me soube que ele era piloto de um taxi aéreo e que a viagem ia ser de avião! Eu nem queria acreditar. Ainda por cima, além do voo gratuito ainda tive direito à minha primeira aula de pilotagem.


Nervoso mas seguindo cuidadosamente todas as instruções fiz a descolagem sozinho, ou pelo menos assim ele me fez crer pois na verdade ele nunca chegou a largar os comandos. Em Maroantsetra ainda tentei visitar a ilha e reserva natural de Nosy Mangabe mas já não tive tempo.

Agora preparo-me para regressar à capital e aproveitar o melhor possível os dois que me restam.

- Filipe Tavares

PRÓXIMA CRÓNICA: [MISSÃO POSSÍVEL 3: MADAGÁSCAR X]

MISSÃO POSSÍVEL 3: MADAGÁSCAR VIII


 
"19h30, 6 de Dezembro de 2008, Restaurante em Ambodifotatra, Ilha de
Sainte Marie

Salama!

Depois de 24 horas de Taxi Brousse, vi-me obrigado a passar um dia na cidade de Toamasina esperando a oportunidade de fazer a viagem de barco para a ilha de Sainte Marie.


Outrora desenvolvida como um resort para os franceses na era colonial, a cidade de Toamasina tem actualmente um aspecto decadente mas curioso com muitas casas e edifícios antigos. Tem também um dos principais portos de abastecimento de Madagáscar e é frequentada por marinheiros de todo o Mundo.


Sainte Marie é uma ilha com 57Km de comprimento próxima da costa leste de Madagáscar. O seu nome actualmente utilizado foi dado pelos portugueses, os primeiros europeus a descobri-la. Os franceses tentaram estabelecer uma colónia na ilha mas foram derrotados por febres tropicais que mataram a maioria dos pioneiros. Desde então a ilha tornou-se um refúgio de piratas que assaltavam os barcos mercantes entre o cabo da Boa Esperança e a Índia. Obviamente os piratas não existem mais e são poucas as marcas visíveis actualmente, mas tão recentemente como no ano 2000 ainda foram descobertos os vestígios do barco de Captain Kidd, o mais popular dos piratas de Sainte Marie. O paradeiro do seu tesouro continua desconhecido.


Nas zonas mais remotas de Sainte Marie, existe tudo o que se pode esperar de uma ilha tropical. Praias de areia branca, um mar calmo e transparente, muita vegetação e os típicos sons da floresta tropical.
Apesar da forte aposta do turismo, certas zonas da ilha mantêm uma tranquilidade surpreendente. Os seus habitantes ajudam com a sua simpatia e boa disposição. É difícil para mim explicar o quanto fiquei fascinado com ilha. Acabei por ficar aqui vários dias num bungalow a poucos metros do mar.


Ao mesmo tempo para acalmar o meu espírito irrequieto, aproveitei a ocasião para mergulhar. Desde a minha viagem à América Central que não visitava o fundo do mar e já aguardava pelo regresso com bastante ansiedade. Creio que o local que escolhi foi uma boa aposta. A Ilha de Sainte Marie tem um grande recife de corais e uma grande variedade de vida aquática. Em vez de simplesmente mergulhar, aproveitei para tirar o segundo nível do curso de mergulho da PADI, e experimentei novas modalidades, como mergulho nocturno, mergulho de grande profundidade, mergulho em barcos afundados, e navegação sub-aquática.
Depois de todas estas experiências fascinantes espero que a próxima vez não tarde tanto tempo.


Também aqui na ilha da Sainte Marie, tive a oportunidade de assistir a uma festa do Zebu. O proprietário Italiano da escola de mergulho deu início à construção de um Hotel e para que tenha boa sorte no seu negócio, a tradição de Madagáscar obriga a que faça uma festa do Zebu para todos os residentes. Toda a equipa da escola de Mergulho, eu e os outros mergulhadores foram também convidados e até nos arranjaram uma carrinha de caixa aberta para nos transportar. A festa dura pelo menos dois dias. O anfitrião compra um ou mais Zebus, conforme o número de convidados, e no primeiro dia faz-se uma espécie de tourada. Os Zebus não parecem tão bravos como os nossos touros, mas os populares encarregam-se de atiça-lo.


O anfitrião desafia os mais corajosos oferecendo algum dinheiro a quem montar o animal. No segundo dia, mata-se e prepara-se o Zebu para comer com arroz. Folhas de árvores foram usadas para tudo, embrulhar o arroz cozido, para fazer de mesa no chão, e bocados mais pequenos dobrados servem de colher tanto para o arroz como para água de cozedura do Zebu que serve de molho. Gostei da experiência mas não posso dizer que tenha gostado muito da comida!

Amanhã termino o meu descanso e parto de barco novamente para a grande ilha. O meu plano é de aventurar mais para norte para a remota costa da Baunilha!"

- Filipe Tavares

PRÓXIMA CRÓNICA: [MISSÃO POSSÍVEL 3: MADAGÁSCAR IX]

02 dezembro, 2008

MISSÃO POSSÍVEL 3: MADAGÁSCAR VII

15h00, 30 de Novembro de 2008, Estação de Taxi-Brousse de Manakara

Salama!

Aguardo a partida do meu transporte para Antananarivo e aproveito para escrever mais um pouco. Nos últimos dias tenho viajado muito rápido e agora preparo-me para ainda mais uma maratona de Taxi-Brousse até o Norte de Madagáscar.


 A partida da praia de Anakao foi algo atribulada com o mar turbulento e eu no barco literalmente a tomar um duche de água salgada durante toda a hora da viagem. De volta a Toliara apanhei o meu primeiro Taxi-Brousse para o parque nacional de Isalo. Não foi tão mau como se diz. Tive direito ao meu próprio lugar no mini-bus e à parte de uma galinha me fazer cócegas nos pés, a viagem foi rápida e decorreu sem problemas.

No parque nacional de Isalo existe a gruta dos Portugueses, uma caverna com uma pequena construção que se crê ter sido feita pelos primeiros europeus a explorar a ilha de Madagáscar. Só pelo nome fiquei curioso mas o local é tão remoto que obriga a uma caminhada de 6 dias. Optei por um percurso mais curto de 2 dias com uma noite de campo. O parque é basicamente uma enorme montanha arenosa formada na era do Jurássico. A caminhada teve início nas planícies que a rodeiam e depois fomos subindo até o planalto. As paisagens são muito distintas e espectaculares. Não existe muita vegetação na maior parte do parque mas sempre que nos aproximámos dos diversos canais de água existentes, o cenário transforma-se numa autêntica floresta tropical com algumas cascatas e piscinas naturais de bónus. 


O local de acampamento foi precisamente numa dessas florestas e os nossos guias não paravam de nos chamar para vermos alguns animais, mochos, camaleões, lagartos, insectos camuflados em ramos e flores, e muitas cobras. Felizmente a minha tenda bem fechada não deixava passar nada.
No final do segundo dia de visita aproveitei para continuar a viagem para norte até à cidade de Fianarantsoa.

A Réseu National des Chemins de Fer Malgaches é constituída por mais de 1000 Km de linhas de caminho de ferro. Esta herança da época colonial sob o domínio dos Franceses, reduz-se actualmente a uma série de estações e linhas abandonadas, excepto num pequeno troço entre Fianarantsoa e Manakara na costa Este da ilha em que o comboio ainda circula tal e qual como os Franceses deixaram. 


Foi uma viajem ao passado numa linha que atravessa plantações de chá e café, florestas tropicais, 17 estações locais, 48 túneis, montanhas, e até algumas cascatas. Esta viagem de comboio é actualmente uma atracção turística com 2 carruagens de primeira classe para os estrangeiros e apenas 1 carruagem de segunda classe (e 4 de carga) para o povo. Ainda assim este comboio que alterna o sentido da viagem todos os dias continua a ser o principal meio de transporte para as pequenas povoações ao longo da linha que a utilizam para transportar as suas colheitas. Eu achei que seria mais engraçado viajar na segunda classe no meio dos populares mas acabei por me enfiar numa carruagem totalmente apinhada incapacitado de me mexer. 


Após 2 paragens lá consegui sair por cima das pessoas e troquei para uma das carruagens de carga, também com pessoas mas com mais espaço e uma grande porta para apreciar as paisagens. A viagem foi um autêntico piquenique com vendedores de todo o tipo de snacks em todas as paragens.

À chegada de Manakara tive que abrir caminho por entre os insistentes condutores de Pousse-Pousse. Por todo o Madagáscar e aqui em Manakara em particular existem muitos condutores de táxis versão carrinho de mão. Não gosto nada da sensação de ser transportado à custa do esforço físico de alguém. Mas é o trabalho de muita gente e mais um negócio que posso proporcionar. Estes transportes não são exclusivos dos turistas, pelo contrário são utilizados por toda a gente. É estranho ver crianças a irem para a escola transportadas por um Pousse-Pousse.
Nem sequer é um transporte mais rápido do que ir a caminhar, é apenas mais cómodo.


O Hotel em que passei a noite em Manakara parece ser o maior e melhor da Vila. O empregado enquanto mostrava-me o quarto fez uma careta e coçou-se até um lagarto sair por entre os botões da camisa! Em quase todos os quartos tenho visto estes amigos lagartos que me fazem o favor de trepar e comer os mosquitos das paredes, mas nunca tinha visto um que fizesse parte do “serviço” do Hotel.

Ainda em Manakara aluguei uma bicicleta para conhecer a Vila e as pequenas povoações ao longo da costa, terminando assim minha visita ao sul do país. Agora preparo-me para muitas horas de estrada de volta à capital e continuando para norte até à Ilha de Sainte Marie. Aqui despedi-me finalmente de Javi e da Cristina, o simpático casal Basco de San Sebastian que tinha vindo a fazer o mesmo itinerário que eu desde a expedição do rio Tsiribihina.
- Filipe Tavares

PRÓXIMA CRÓNICA: [MISSÃO POSSÍVEL 3: MADAGÁSCAR VIII]

01 dezembro, 2008

MISSÃO POSSÍVEL 3: MADAGÁSCAR VI

"18h30, 25 de Novembro de 2008, Praia de Anakao

Salama!

Escrevo este texto na varanda do meu bungalow enquanto o sol se põe no mar do canal de Moçambique e uns Lemures de vez em quando se vêm sentar ao meu colo! É mais um momento privilegiado que tenho nesta viagem e motivo de reflexão.


Há 2 dias atrás estava na cidade de Morondava mais a Norte. Aproveitei um dia na cidade para preparar os passos seguintes. As opções para viajar de Morondava para sul são completamente distintas. Um avião confortável da Air Madagáscar demora 1 hora para fazer os 300 Km até a cidade de Toliara. Para o mesmo destino um camião de carga Taxi-Brousse sobre lotado de pessoas demora 30 horas seguidas.

Viajar dentro da ilha do Madagáscar é muito complicado pois as estradas são más ou simplesmente inexistentes e a pressão de manter os transportes baratos, obriga a ocupar os transportes com o dobro ou mais pessoas do que o esperado. As alternativas bastante mais caras é voar ou contratar um veículo todo terreno. Tenho a intenção de experimentar uma viagem típica do Madagáscar mas desta vez optei pelo avião agendado para o dia seguinte.


Ainda em Morondava aproveitei o dia que me restava para visitar a aldeia de pescadores a sul. Apesar de estar muito próxima, um rio sem pontes separa-a da cidade e talvez por isso mantém um aspecto muito tradicional. Foi uma visita muito interessante, com as típicas casas de madeira e palha, uma tenda-escola da UNICEF, muitos barcos de pescadores, um jogo de futebol na praia, e claro, as curiosas e simpáticas reacções das pessoas.

No regresso quase ao por de sol, ainda encontrei na praia um grupo de amigos a tocar viola e a cantar rap. Eu apresentei-me logo para trocar uns mp3 e dar umas dicas. O vocalista principal chama-se Biggy e já foi à capital gravar uns sons num estúdio. Amador mas bastante bom até, tanto que no início pensei que me estava a enganar. Ele pediu-me várias vezes que levasse a música dele para Portugal como se eu fosse empresário do mundo musical, mas acho que terá mais sorte aqui no Madagáscar.


Toliara no sudoeste do Madagáscar é um dos destinos mais turísticos do país com quilómetros de praia. Eu optei por uma zona menos visitada a sul, a praia de Anakao. Mais uma vez não existem estradas e tive que ir de barco pelo mar. À chegada fui surpreendido com uma praia e um hotel muito simples mas simplesmente adorável. Tive direito ao meu próprio bungalow literalmente em cima da praia com vista directa para o mar.

Centenas de conchas e búzios marcam os caminhos pela areia e uns simpáticos lemures de estimação brincam com os turistas. Aqui existem algumas escolas de mergulho mas decidi adiar a experiência para o norte onde existem barcos piratas afundados. Este é um sítio fantástico e calmo para descansar uns dias, mas eu vim mais para conhecer e amanhã já tenho o barco rápido marcado para partir para o Parque nacional de Isalo, um dos melhores e mais populares do Madagáscar."

- Filipe Tavares

PRÓXIMA CRÓNICA: [MISSÃO POSSÍVEL 3: MADAGÁSCAR VII]