04 março, 2012

VIVER EM MOÇAMBIQUE IV

Cidade do Cabo, África do Sul

Já foi há alguns meses atrás que decorreu a Africa Com, a maior feira de telecomunicações em Africa que decorre anualmente na Cidade do Cabo. Em todo o meu percurso profissional, foi a primeira vez que estive num evento destes. Foi uma experiência muito interessante embora também um pouco desapontante. A feira parecia estar repleta de vendedores e poucos compradores, não só nos stands como seria de esperar, mas também na maioria dos visitantes.

A curta estadia na Cidade do Cabo e a feira não deixou muito tempo para descobertas. Ficou a impressão de uma cidade de outro mundo, ou melhor de outro continente! É uma cidade moderna, cosmopolita, limpa, organizada, com um aspeto como nunca tinha visto em África. Tanto a cidade como a própria região estão cheias de atrações, incluindo Robben Island onde Nelson Mandela esteve preso durante 18 anos.
False Bay
A história da cidade não está muito ligada aos portugueses, mas o cabo onde o Oceano Atlântico e o Oceano Índico se encontram sim. A exploração dos portugueses foi progredindo ao longo da costa ocidental de África cada vez mais para sul com relatos e mapas de novas regiões. Mas a partir desta região, os exploradores que se aventuraram não regressavam mais. Chegou-se mesmo a pensar que aqui existia um monstro que devorava as caravelas. Mito quebrado por Bartolomeu Dias que conseguiu navegar para o outro lado do cabo e regressar para contar o sucedido. Com o caminho marítimo para a Índia aberto, o Cabo das Tormentas mudou assim de nome para Cabo da Boa Esperança.
Cabo da Boa Esperança
Cabo da Boa Esperança
Apesar da curta estadia, ainda tive uma manhã livre antes do meu voo de regresso. Acabei por visitar precisamente o mítico cabo. Na verdade toda a península é uma reserva natural e um sítio muito interessante. Ficam aqui as fotos para demonstrar.

Filipe Tavares

PRÓXIMA CRÓNICA: [VIVER EM MOÇAMBIQUE V]

02 março, 2012

VIVER EM MOÇAMBIQUE III

Ilha de Xefina

A Ilha de Xefina Grande situa-se a uns 4Km do continente mesmo em frente à famosa Costa do Sol, a praia mais próxima da cidade de Maputo. Apesar do nome, a ilha não é maior do que um dos bairros da cidade. Não é o tamanho, mas sim a localização estratégica na baía e a proximidade a Maputo que caracteriza a sua importância. Desconheço a sua história mais antiga, mas logo me contaram da existência de uma antiga prisão da PIDE e base militar que jazem agora em ruínas. Rapidamente a Xefina Grande despertou a minha curiosidade e acabou por ser a minha primeira exploração fora da cidade de Maputo. Já lá vai algum tempo, mas fica aqui o meu relato.
Praia dos Pescadores
Com a maré baixa na praia da Costa do Sol, é possível caminhar algumas centenas de metros mar adentro. Dá vontade de caminhar até à ilha de tão próxima que aparenta estar. Mas a travessia não pode ser feita a pé e são os pequenos barcos de uma vila de pescadores que tipicamente navegam estas águas. No fim de semana anterior, visitei essa vila e abordei os pescadores procurando informações sobre a travessia. O preço, a duração da viagem, as melhores marés, e o que nos esperaria do outro lado. Tudo ficou acordado. Na semana seguinte lá estava eu na hora combinada tentando encontrar o dono do barco, acabando por descobrir que se encontrava de ressaca da noite anterior! Ainda bem que não lhe dei o adiantamento que tanto me pediu! Na verdade, tenho constatado que a festa do fim de semana contagia muita gente aqui em Maputo e os exageros são bem visíveis nos dias seguintes. Felizmente não foi difícil renegociar com outros pescadores, embora tenha gerado muita discussão entre eles.
Praia da Xefina
Com as velas rasgadas e num mar muito calmo, o barco foi-se aproximando lentamente. E após meia hora de viagem, fui muito bem recebido por uma bela praia selvagem repleta de aves! Os meus barqueiros ancoraram o barco na areia e fizeram questão de me guiar pela ilha. As ruínas encontram-se do outro lado e fizemos o percurso à volta da ilha pela praia. Mais aves, muitas aves, barcos de pescadores, caranguejos, e muitas alforrecas mortas na areia!
Praia da Xefina
Praia da Xefina
Alforrecas
Pouco depois encontro as primeiras ruínas. Casas parcialmente destruídas e ao mesmo tempo relativamente bem conservadas, enterradas e submersas na areia e mar. Parecia estar a caminhar num cenário de um filme! Tal como acontece na costa portuguesa, o mar aqui tem reclamado a praia. Os edifícios da base militar parecem simplesmente ter sido remexidos pela maré!
Ruínas da Base Militar
Ruínas da Base Militar
Ruínas da Base Militar
Ruínas da Base Militar
Ruínas da Base Militar
Fascinado, acabei por abandonar a praia apenas pela insistência dos meus guias. Desta vez regressamos por um caminho atravessando o bosque interior. Mesmo no meio da ilha, eis que surge mais um cenário fascinante. As ruínas da prisão que por sua vez estão a ser reclamadas aos poucos pelo bosque! Fiquei apenas a imaginar como teria sido a prisão em pleno funcionamento. As inúmeras celas compactas que agora parecem albergar muitos morcegos! Um edifício grande que parece ter sido a cozinha. Um salão com o brasão de Portugal. E uma enorme casa de luxo com piscina, talvez para o militar da mais alta patente.
Ruínas da Prisão
Ruínas da Prisão
Ruínas da Prisão
Ruínas da Prisão
Ruínas da Prisão
Mais uma vez abandonei o local apenas pela insistência dos meus guias preocupados pela maré baixa que se aproximava. Continuando pelo bosque, ainda demos com uma pequena aldeia. Os habitantes da ilha são pouco mais de uma dúzia de pescadores residentes e um par de militares que os meus guias aparentavam evitar.
Praia da Xefina
Praia da Xefina
Flamingos
De volta à praia das aves, o barco estava de facto estacionado na areia depois do mar ter descido. Apressamo-nos a empurra-lo para a água e regressar rapidamente. Acabou por ser um pouco tarde demais, pois a meio o barco encalhou na areia. Felizmente a viagem não era longa e não tivemos dificuldade em fazer os últimos metros a pé!
Cidade de Maputo

Filipe Tavares


PRÓXIMA CRÓNICA: [VIVER EM MOÇAMBIQUE IV]