29 novembro, 2010

RÚSSIA & MONGÓLIA II

"17h00, 13 de Setembro de 2010, estação de comboios de Kazan

Zdrast vuitié

Estou na sala de espera da estação de Kazan, prestes a começar a minha primeira grande viagem de comboio em direcção à Sibéria. Estou a 800Km de Moscovo e cheguei até aqui de comboio, mas foram viagens curtas cobertas por comboios quase urbanos. A minha excitação compara-se quase com uma primeira viagem de avião. Viver vários dias num comboio evoca-me a experiência de viagens antigas antes da era da aviação. Faze-lo agora, só mesmo no maior país do Mundo com a maior linha de caminho de ferro do Mundo. Eu vou fazer apenas alguns troços mas existem comboios que fazem a viagem de Moscovo até Vladivostok percorrendo 9288.2km durante 7 dias.


Nestes últimos dias, visitei Moscovo e outras cidades da Rússia Europeia. O primeiro impacto não foi fácil. A língua Russa tem um alfabeto próprio, e apesar de ter algumas letras comuns com o nosso, os sons são completamente diferentes o que torna impossível mesmo uma leitura desajeitada. O mapa do meu guia de viagem tem os nomes apenas no alfabeto ocidental, e as placas das ruas de Moscovo apenas no alfabeto Russo. Pedir indicações aos Russos acabou por não ajudar muito pois são raros os que falam Inglês. Andei às voltas no Metro com duas paragens não planeadas, saí completamente desorientado, e depois de me encontrar no mapa, percorri 3 pousadas até encontrar uma cama livre! Mas no fim tudo se resolveu. Esta experiência tem-se repetido um pouco ao longo destes dias.


Eu não saí do centro de Moscovo, mas o que vi foi impressionante! A Praça vermelha, o Kremlin, as decoradas estações de metro, e todos os edifícios históricos. Uma cidade dedicada às artes e à cultura. O que mais me fascinou foram os enormes edifícios da época da união soviética. A cidade é um misto de várias culturas desde a época dos Czars, do regime comunista, da união soviética, terminando no mais moderno, rico, e luxúria que a actualidade pode oferecer.


Na verdade, tenho viajado por países pobres onde um estrangeiro é sempre uma curiosidade e símbolo de riqueza mesmo que ande à boleia com a tralha literalmente às costas. Aqui senti-me completamente deslocado no meio de uma passagem de modelos, tal me pareceram as pessoas de Moscovo. Mochileiros não parecem ser muito comuns na Rússia e sinto que geram mais sentimentos de desconfiança do que a curiosidade que estou habituado.


Encontrei alguns Russos que se mostraram extremamente simpáticos, mas só depois de um primeiro contacto que é difícil de conseguir dada a barreira da linguagem. Quem quiser viajar na Rússia é melhor aprender a língua primeiro. Houve mesmo um simpático rapaz que me perguntou porque é que eu não falava a língua dele quando ele se deu ao trabalho de aprender a minha. Claro que eu expliquei-lhe que o Inglês não era a minha língua materna e ficámos quites. Mas vou tentar aprender o mínimo pelo menos.


Depois de Moscovo, visitei Suzdal, uma capital medieval com várias igrejas fortificadas. Encontrei uma vila encantadora e em plena festa popular no dia que a visitei. As igrejas ortodoxas e as casas inteiramente construidas de madeira fizeram-me recordar as aldeias do norte da Roménia. Termino agora a visita à Rússia Ocidental em Kazan, uma cidade multi-cultural que mistura pacificamente as culturas da Rússia e do povo Tatar da Turquia."
 
 
Filipe Tavares


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21 novembro, 2010

RÚSSIA & MONGÓLIA I

É difícil manter um blogue actualizado durante uma viagem em regiões remotas. Cortes de energia, cortes nas comunicações, computadores lentos e meio avariados, teclados estrangeiros super complicados, cyber cafés com horários reduzidos, e muita falta de tempo sempre em viagem até o próximo destino. Mais do que tudo isso, uma série de experiências à minha espera lá fora, bem mais interessantes do que a Internet.

Não era a minha intenção inicial, mas acabei por adiar a actualização do blogue para depois do regresso de mais uma aventura. Desta vez na Rússia e na Mongólia:


"11h00, 9 de Setembro de 2010, em transito no Aeroporto de Frankfurt

Vastos planaltos e desertos, desfiladeiros e montanhas brancas de neve, mais de 3 mil lagos cintilantes, um povo nómada com tradições milenárias, cavalos selvagens, templos Budistas e ruínas misteriosas, uma lendária hospitalidade. Esta é a receita da Mongólia, um enorme território árido e distante do mar no coração da Ásia. Parece-me um excelente destino para explorar!

Já faz praticamente um ano desde a minha última viagem. E apesar de neste ano já ter passado muito tempo fora de Portugal em serviço, não podia deixar de aproveitar mais uma aventura e descoberta. Desta vez não foi muito difícil escolher o destino. A Mongólia apresenta-se como uma região remota e intacta, o que bastou para aguçar a minha curiosidade.

A viagem de ida vai demorar alguns dias. O próximo voo só me leva até Moscovo e o resto vou de comboio na mais comprida linha do mundo, o Trans-Siberiano. São quase 10 mil quilómetros desde a capital até a distante costa leste da Rússia. Outra rota popular inclui um desvio para Pequim através da Mongólia. A viagem vai demorar alguns dias mas dará para ficar com um cheirinho da Rússia. Se gostar muito até posso me deixar ficar em algumas paragens. Há muitas possíveis e eu ainda não fiz as reservas do comboio.

Espero enviar boas noticias em breve."



Filipe Tavares


PRÓXIMA CRÓNICA: [RÚSSIA & MONGÓLIA II]