19 agosto, 2006

“NÁ’MÉRICA CENTRAL” VIII

Bocas del Toro - Panamá - 18 de Agosto de 2006

Tudo tem um fim!
O pragmatismo desta afirmação foi crescendo nos últimos dias, atingindo hoje a sua maior dimensão.
-¨Mi queda solamente uno dia de vacaciones!¨

A última semana foi caracterizada pela passagem em diversas capitais: Tegucigalpa - Honduras, Manágua - Nicarágua e San José - Costa Rica; pela visita à cidade colonial de Granada; pela subida ao volcao Concepcion na ilha de Ometepe no lago Nicarágua e pelas viagens no meio aquático.

É um facto que tenho passado imensas horas viajando em autocarros, barcas, ferrys e lanchas, mas também é um facto que a maioria destas viagens mais se assemelha a um ¨tour¨ do que a uma simples deslocação. Quando se entra num ferry para uma viagem nocturna de 10 horas, onde metade dos passageiros instalam redes para dormir no convés ou colchões improvisados para dormir no chão, onde se tem de aguardar uma hora para que a carga de bananas e plátanos seja transferida para o ferry e onde eu acabei por dormir sobre a minha bagagem e a de outros passageiros e o Filipe optou por descansar por debaixo de um banco estando nós a viajar em primeira classe, pode-se afirmar que isto não é apenas uma deslocação entre dois locais é sim uma experiência que deixa marcas na nossa personalidade! Não pela nossa situação precária mas temporária, mas por todos aqueles que lá encontramos cumprindo mais um desafio do seu quotidiano.

Outra viagem que demonstrou que o mais importante não era o destino mas sim a deslocação para lá chegar foi a ligação por barca entre San Carlos e El Castillo. A prova desta afirmação são os cenários de selva luxuriante enriquecidos pela presença de diversas espécies de fauna, quebrados apenas por algumas habitações, que me fizeram recordar a escola primária quando em meio físico estudávamos a casa típica, e as constantes paragens para carregar ou descarregar bens assim como passageiros locais. No dia seguinte o percurso foi no sentido oposto com a particularidade de se efectuar em plena noite. Perdemos a riqueza visual do dia anterior mas ganhamos uma dose extra de adrenalina.

Como o Filipe parte para Portugal um dia depois de mim optámos por nos separar. Ele foi em busca de um vulcão em actividade e eu optei por Bocas del Toro, um arquipélago de ilhas do Panamá no Caribe, com o objectivo, já cumprido, de realizar mais dois mergulhos. Amanhã vou-me dedicar a fazer nada, praticando esta actividade numa qualquer praia da região. No final da tarde para de saturar dos bancos de autocarro, apanho um avião para a cidade do Panamá, de onde parto no domingo para Portugal.

PRÓXIMA CRÓNICA: [“NÁ’MÉRICA CENTRAL” IX]

16 agosto, 2006

“NÁ’MÉRICA CENTRAL” VII.1

Lago Atitlán - Guatemala

Lago Atitlán - Guatemala

Suchitoto - El Salvador

Roatán - Honduras

Nicarágua

El Castillo - Nicarágua

12 agosto, 2006

“NÁ’MÉRICA CENTRAL” VII

Tegucigalpa - Honduras 11 de Agosto 21h00

Iniciei este artigo a 4 de Agosto em Copán nas Honduras (Mais ruinas Maias).

Ok, já tinha afirmado ter atingido a minha cota de ruínas mas o Filipe acabado de chegar demonstrou entusiasticamente o seu interesse em visitar um núcleo Maia ao que eu acedi, mas declaro publicamente MAIS NÃO!

A minha estadia em redor do lago Atitlán prolongou-se mais que o planeado devido aos horários dos transportes.
Aproveitei para acabar a leitura do "Los Días De La Selva" de Mario Payeros, escritor e revolucionário de esquerda, que relata a sua experiência na criação clandestina de células de apoio ao movimento revolucionário. O entusiasmo era tal que acabei por ler na mesma noite a história da Guatemala em cartoons: "La Otra História" criado por Filóchofo. Fez-me recordar o filme "A Vida é Bela", pela forma humorística como relata a horrenda história deste país na certeza que ninguém irá ficar indiferente á crueldade dos factos.
Não consigo compreender como, com a complacência dos EUA, existiu uma sociedade feudalista na Guatemala no decorrer dos anos 70, onde protegidos por uma lei do país os proprietários dos campos de café, normalmente norte americanos, usavam a mão de obra indígena sem a obrigatoriedade de lhes pagar! Escravatura Contemporânea!

Continuação do artigo a 5 de Agosto em La Ceiba nas Honduras.

Os pueblos em redor do lago Atitlán mantém vivas as suas tradições ancestrais independentemente da pressão turística. Exemplo disso é Santiago Atitlán onde assisti ao ritual de bênção pelo Maximám, um misto de deus maia com Pedro Alvarado (conquistador da Guatemala) e Judas. Este sob a forma de uma estranha escultura de madeira vai alternando pelas casas dos anciões da aldeia e onde através de oferendas num ritual bizarro o povo solicita a sua bênção.

Após mais um dia a assar o traseiro nos autocarros liguei Panajachel a San Salvador para me encontrar com o tuga que ai me esperava há 2 dias.
No dia seguinte (3 de Agosto) partimos lentamente em direcção á fronteira das Honduras. Até lá chegar visitámos cidades coloniais, atravessámos lagos em lancha, apanhámos boleia na traseira de uma pickup, viajámos em chicken buses, terminando o dia com uma molha e uma última boleia para San Ignácio. Acabámos por atravessar a fronteira no dia seguinte mas só após ter assistido ao espectáculo bárbaro da matança de um perro (cão) por outros dois em plena calle, sem que ninguém se atrevesse a socorrer o pobre animal.
Para chegar á fronteira optámos pela económica boleia na traseiras das pickups, onde tivemos o prazer de partilhar o espaço com um passador de emigrantes e dois clientes seus que estavam a iniciar a longa viagem de El Salvador para os States. Este não foi o meu primeiro contacto com este fluxo migratório, há alguns dias atrás conheci um jornalista espanhol a trabalhar no México que me falou destes emigrantes e dos 1000 US$ que pagam aos passadores, bem como da rota tradicional para atravessar o México que é no tejadilho do comboio que atravessa o país. Até onde sei muitos destes sonhos não se chegam a concretizar. Outros há como o caso do passageiro com quem dividi o banco entre Guatemala City e San Salvador que retornava á terra que o viu partir mas agora acompanhado por uma esposa mexicana e pelos seus dois filhos!

Aqui iniciámos o massacre em autocarros, passamos praticamente dois dias nestes rústicos espaços de enorme valor inter cultural. Apenas quebrámos o ritmo com a visita as ruínas de Copán, onde tive a oportunidade de aprender o verdadeiro motivo da guerra entre El Salvador e as Honduras. Os livros de história referem a deportação de refugiados salvadorenhos pelas Honduras com acusações de maus-tratos e um jogo de futebol em San Salvador entre estas duas nações que terminou em extrema violência e que originou a guerra. Mas a verdadeira razão está relacionada com migrações do médio oriente no decorrer das duas grandes guerras. Ambas as comunidades de emigrantes começaram a controlar a economia dos países, Judeus no caso de El Salvador e árabes (por coincidência com o momento actual) maioritariamente do Líbano nas Honduras. Julgo que não é necessário acrescentar detalhes!

Mar à vista! Finalmente após esta longa travessia avistamos o mar das Caraíbas, pernoitando em La Ceiba mas ansiosos por apanhar o ferry para Roatán.

Continuação do artigo a 11 de Agosto em Tegucigalpa nas Honduras.

Roatán é conhecida por ser o local mais económico no mundo para se tirar um curso de mergulho.
Aproveitando a nossa visita decidimos aprender mais um pouco. O Filipe tirou o seu curso Open Water Dive e eu decidi evoluir para o Advanced PADI, que não é mais do que realizar 5 mergulhos específicos: nocturno, de profundidade, flutuabilidade, deriva e navegação.

Os planos pareciam ser excelentes, a praia é magnifica, o clima cinco estrelas, a temperatura da água fabulosa mas a comida, ou pelo menos algo que eu comi, foi a desgraça, dois dias de cama a contorcer-me com cólicas! Dos iniciais dois dias que planeávamos lá ficar, acabamos com a decisão de tirar os cursos e a minha convalescença por ficar 5!

É assim o nosso espírito errante, não há regra a cumprir e a nossa vontade é soberana a qualquer plano inicial.

PRÓXIMA CRÓNICA: [“NÁ’MÉRICA CENTRAL” VII.1]