26 setembro, 2005

SENTADO NAS NUVENS 1

A curiosidade acerca do mundo impulsiona-nos a partir, à descoberta de novas culturas e à vivência de novas experiências, enriquecendo a nossa personalidade.
Apesar do consenso em torno deste pensamento, muitas pessoas adiam a sua partida. Argumentam as dificuldades da vida, a prestação que falta pagar, a falta de tempo livre, a família, a logística…

O propósito do ALMA NÓMADA é ser um local privilegiado para a partilha de diferentes vivências, com o intuito de derrubar medos e motivar a partida de NOVOS NÓMADAS.
Tenho a convicção, que esta saga, SENTADO NAS NUVENS, irá ser um dos melhores exemplos para este desígnio. Não porque se trate de uma viagem para um destino exótico ou de duração superior ao normal, mas sim pelo exemplo humano e capacidade de derrotar as ditas dificuldades da vida.

Esta é a história do meu amigo Alberto:
"Em 1996 um tumor na medula (sacana) fez o favor de me chatear. Durante 3 meses de sofrimento e desconhecimento fui sobrevivendo, a palavra é mesmo sobrevivendo, até que rebentou a bomba, um tumor na medula que precisava de ser removido com a urgência que podem imaginar.
Fui internado num hospital público e chegou o dia em que após 12 horas de operação a minha vida se alterou profundamente e para sempre (se não acontecer o tão esperado milagre). Desde esse dia que deixei de andar a pé e "optei" pelo transporte sentado numa cadeira de rodas. Comodismo? A vida, a puta da vida, assim o ditou.
Mas nem tudo são desvantagens, nas descidas consigo velocidades muito superiores aos seres andantes, tenho vantagens a nível do IRS (esse monstro que nos viola até ao tutano), tenho prioridade de atendimento nos serviços públicos, pois é, a grande complicação é conseguir entrar nos serviços públicos porque a falta de acessibilidades é gritante!
Durante estes anos tive de aprender a viver confinado à minha cadeira de rodas (de titânio) e confesso que não custou muito embora às vezes as saudades de andar fazem doer muito. Tenho saudades dos meus antigos passeios pelo monte, escaladas, andar de bicicleta e acima de tudo, de não depender de outros para ultrapassar as barreiras arquitectónicas que se me deparam constantemente.
Aos meus amigos, os verdadeiros, obrigado por nunca me terem abandonado e por me darem forças quando o desânimo se apodera de mim e me impele a desistir.
À minha mulher Manuela é com orgulho que até hoje cumprimos à risca a promessa mútua que fizemos no dia 21 de Setembro de 1996 "na saúde e na doença... até que a morte nos separe". A Deus que apesar do sofrimento nunca me abandonou e sempre, mesmo nos momentos mais tristes, esteve ao meu lado. À minha filha, a princesa Bárbara, lufada de ar fresco que à 2 anos atrás apareceu na minha vida e me fez compreender o que é dar a vida por alguém obrigado!

Enfim, uma vida triste? Não, apenas atribulada!!!!"

- Alberto Fernandes

PRÓXIMA CRÓNICA: [SENTADO NAS NUVENS 2]