15 dezembro, 2008

MISSÃO POSSÍVEL 3: MADAGÁSCAR IX

12h45, 11 de Dezembro de 2008, Aeroporto de Maroantsetra

Salama!
 

A planta de Baunilha, originária do México, foi introduzida na ilha de Madagáscar pelos Franceses. O clima sempre quente e húmido da costa nordeste da ilha é muito propício ao seu cultivo e actualmente Madagáscar é o maior produtor de baunilha do mundo. Por esta razão a costa nordeste do país é conhecida pela costa da baunilha. A sua produção trouxe alguma prosperidade a esta zona mas nem por isso trouxe algum desenvolvimento. Continua a ser uma das zonas mais remotas e difíceis de viajar.


Quase no fim da minha viagem, não é a melhor zona para se estar com todos os dias contados, de qualquer maneira aventurei-me com a segurança de poder viajar de avião caso fosse necessário. Mesmo as visitas aos parques naturais desta zona requerem vários dias e as viagens são tão difíceis e demoradas que passei a maior parte do tempo em viagem. No final, nem perto estive de completar o meu plano de chegar ao norte do país, mas nem por isso foi uma experiência menos interessante.


Sai de barco da ilha de Sainte Marie bem cedo e procurei a Route National 5, a estrada nacional que percorre a costa até Maroantsetra.
Eu não fazia ideia da regularidade dos taxi brousses nesta estrada nem se viriam com lugares vagos mas a minha ideia era apanhar boléia de alguém caso não conseguisse transporte. Após 3 horas descobri que nenhum carro particular passava naquela estrada. Apenas meia dúzia de Tac-Tacs por dia, os taxi brousse versão todo terreno, os únicos capazes de fazer este trajecto apinhados de pessoas e mercadorias.

Finalmente consegui um lugar de primeira classe ao lado do condutor mas a viagem não foi fácil. Para arrancar o carro, era necessário sairmos todos para empurrar. O tempo de viagem é imprevisível e quando anoitece a viagem é suspensa até o amanhecer. O semelhante acontece com as travessias dos vários rios. Se a maré não estiver favorável pode ser necessário esperar várias horas. Para fazer apenas 80Km demorei 2 dias, troquei de Tac Tac 2 vezes por causa de avarias e mesmo o último chegou a parar 2 vezes.

Praticamente fiz os últimos quilómetros a pé, felizmente bem no meio da floresta tropical do parque nacional de Mananara-Nord. Foi um bom passeio pelas várias aldeias rurais e um bom convívio com os outros meus colegas viajantes.
Finalmente em Mananara, dispensei um dia para recuperar forças, visitar a pequena cidade, e também uma ilha fluvial habitada por centenas de lemures.

Preparar os próximos passos não foi fácil também. Num momento tinha à disposição um barco e vários Tac Tacs para prosseguir viagem até a próxima cidade de Maroantsetra. Depois de comprar o bilhete de avião de lá para a capital, o barco avariou e afinal os Tac Tacs vinham com um dia de atraso. Já ponderava comprar uma bicicleta para continuar quando me disseram que havia um senhor importante na cidade que ia fazer a viagem até Maroantsetra. Pedi-lhe boleia, ele aceitou, e só depois é que me soube que ele era piloto de um taxi aéreo e que a viagem ia ser de avião! Eu nem queria acreditar. Ainda por cima, além do voo gratuito ainda tive direito à minha primeira aula de pilotagem.


Nervoso mas seguindo cuidadosamente todas as instruções fiz a descolagem sozinho, ou pelo menos assim ele me fez crer pois na verdade ele nunca chegou a largar os comandos. Em Maroantsetra ainda tentei visitar a ilha e reserva natural de Nosy Mangabe mas já não tive tempo.

Agora preparo-me para regressar à capital e aproveitar o melhor possível os dois que me restam.

- Filipe Tavares

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