22 setembro, 2012

VIVER EM MOÇAMBIQUE VI


Ilha de Inhaca
Situada a cerca de 30Km a leste da capital, a Ilha de Inhaca é um dos mais populares destinos turísticos de Moçambique. Muito em parte pela sua proximidade de Maputo sendo um típico destino de fim-de-semana, mas também pela sua beleza e riqueza natural. A ilha e a sua costa foram demarcadas como reserva natural de forma a proteger as mais de 300 espécies raras de aves e os recifes de coral e a sua biodiversidade marinha.
Em conversa com alguns habitantes de Maputo, reconheci um carinho especial pelos encantos de Inhaca. Durante a guerra civil, as estradas eram alvo constante de assaltos das guerrilhas da Renamo. As viagens eram feitas de avião ou em colunas militares podendo mesmo assim sofrerem ataques. Felizmente a guerra não entrou dentro da capital, mas os seus habitantes também não se atreviam a sair. Uma das poucas opções seguras era fazer uma viagem de barco até Inhaca o que se tornou habitual para muita gente.
Uma das visitas de Couch Surfers que acolhi em minha casa pediu-me ajuda para arranjar alojamento e barco para ir a Inhaca. Foram duas estudantes alemãs que vieram de África de Sul para conhecer um pouco de Moçambique. Acabei por me entusiasmar com a ideia e aproveitei a companhia numa visita de fim-de-semana.
Além dos barcos de turistas, existe um barco regular maioritariamente utilizado pelos locais. É a opção mais barata mas também a mais lenta demorando cerca de 3 horas. Não foi uma viagem nada fácil! Parece que é comum o mar ficar tão agitado ao ponto dos barcos não poderem sair. Não foi o caso mas foi o suficiente para uma indisposição que parecia nunca mais terminar. Foi com muito alívio que pus os pés na praia bem sólida da ilha!
O porto de chegada é logo na vila de Inhaca, o maior dos povoamentos existentes na ilha. O primeiro contacto foi logo muito interessante com um pequeno mercado e interações com os locais. Muito virada para o turismo, todos acolhiam um grupo de turistas desembarcados de um cruzeiro proveniente de África do Sul.
À procura do meu alojamento acabei de ir para longe da confusão num lodge à beira mar. Talvez o mais modesto da ilha, mas mesmo assim muito agradável e também animado com a companhia dos outros hóspedes.
A visita à ilha acabou por ser muito curta. Deu para conhecer as praias da ponta do Farol no norte da ilha e algumas das povoações do interior. Muito ficou para ver como a pequena vizinha Ilha dos Portugueses, a estação de biologia marítima e a Ponta Torres no sul da Ilha quase a tocar o continente. Fica para outra visita a repetir.

Filipe Tavares

01 maio, 2012

VIVER EM MOÇAMBIQUE V

Praia da Macaneta

Uma das maiores riquezas naturais de Moçambique é a sua costa. Inúmeras praias magníficas e ilhas paradisíacas ao longo de 2500Km de comprimento! Apesar de tudo, só após alguns meses em Maputo é que dei o meu primeiro mergulho no Oceano Índico!
A praia da Macaneta não é conhecida por ser a mais bonita, mas é sim a praia mais próxima de Maputo. A minha visita surgiu com um convite e boleia de outros portugueses. Embora próxima, não é assim tão fácil lá chegar com uma travessia de rio num Batelão seguida de alguns quilómetros num caminho de lama.
A praia em si, conheci-a com muito vento e um mar agitado, penso que muito aquém do que Moçambique tem para oferecer. Mas mais do que a praia, foi uma visita muito interessante com rios, baías, casas de praia, conviver com os locais e os meus anfitriões portugueses. Deixo aqui algumas fotos desse dia.

Filipe Tavares

PRÓXIMA CRÓNICA: [VIVER EM MOÇAMBIQUE VI]

04 março, 2012

VIVER EM MOÇAMBIQUE IV

Cidade do Cabo, África do Sul

Já foi há alguns meses atrás que decorreu a Africa Com, a maior feira de telecomunicações em Africa que decorre anualmente na Cidade do Cabo. Em todo o meu percurso profissional, foi a primeira vez que estive num evento destes. Foi uma experiência muito interessante embora também um pouco desapontante. A feira parecia estar repleta de vendedores e poucos compradores, não só nos stands como seria de esperar, mas também na maioria dos visitantes.

A curta estadia na Cidade do Cabo e a feira não deixou muito tempo para descobertas. Ficou a impressão de uma cidade de outro mundo, ou melhor de outro continente! É uma cidade moderna, cosmopolita, limpa, organizada, com um aspeto como nunca tinha visto em África. Tanto a cidade como a própria região estão cheias de atrações, incluindo Robben Island onde Nelson Mandela esteve preso durante 18 anos.
False Bay
A história da cidade não está muito ligada aos portugueses, mas o cabo onde o Oceano Atlântico e o Oceano Índico se encontram sim. A exploração dos portugueses foi progredindo ao longo da costa ocidental de África cada vez mais para sul com relatos e mapas de novas regiões. Mas a partir desta região, os exploradores que se aventuraram não regressavam mais. Chegou-se mesmo a pensar que aqui existia um monstro que devorava as caravelas. Mito quebrado por Bartolomeu Dias que conseguiu navegar para o outro lado do cabo e regressar para contar o sucedido. Com o caminho marítimo para a Índia aberto, o Cabo das Tormentas mudou assim de nome para Cabo da Boa Esperança.
Cabo da Boa Esperança
Cabo da Boa Esperança
Apesar da curta estadia, ainda tive uma manhã livre antes do meu voo de regresso. Acabei por visitar precisamente o mítico cabo. Na verdade toda a península é uma reserva natural e um sítio muito interessante. Ficam aqui as fotos para demonstrar.

Filipe Tavares

PRÓXIMA CRÓNICA: [VIVER EM MOÇAMBIQUE V]

02 março, 2012

VIVER EM MOÇAMBIQUE III

Ilha de Xefina

A Ilha de Xefina Grande situa-se a uns 4Km do continente mesmo em frente à famosa Costa do Sol, a praia mais próxima da cidade de Maputo. Apesar do nome, a ilha não é maior do que um dos bairros da cidade. Não é o tamanho, mas sim a localização estratégica na baía e a proximidade a Maputo que caracteriza a sua importância. Desconheço a sua história mais antiga, mas logo me contaram da existência de uma antiga prisão da PIDE e base militar que jazem agora em ruínas. Rapidamente a Xefina Grande despertou a minha curiosidade e acabou por ser a minha primeira exploração fora da cidade de Maputo. Já lá vai algum tempo, mas fica aqui o meu relato.
Praia dos Pescadores
Com a maré baixa na praia da Costa do Sol, é possível caminhar algumas centenas de metros mar adentro. Dá vontade de caminhar até à ilha de tão próxima que aparenta estar. Mas a travessia não pode ser feita a pé e são os pequenos barcos de uma vila de pescadores que tipicamente navegam estas águas. No fim de semana anterior, visitei essa vila e abordei os pescadores procurando informações sobre a travessia. O preço, a duração da viagem, as melhores marés, e o que nos esperaria do outro lado. Tudo ficou acordado. Na semana seguinte lá estava eu na hora combinada tentando encontrar o dono do barco, acabando por descobrir que se encontrava de ressaca da noite anterior! Ainda bem que não lhe dei o adiantamento que tanto me pediu! Na verdade, tenho constatado que a festa do fim de semana contagia muita gente aqui em Maputo e os exageros são bem visíveis nos dias seguintes. Felizmente não foi difícil renegociar com outros pescadores, embora tenha gerado muita discussão entre eles.
Praia da Xefina
Com as velas rasgadas e num mar muito calmo, o barco foi-se aproximando lentamente. E após meia hora de viagem, fui muito bem recebido por uma bela praia selvagem repleta de aves! Os meus barqueiros ancoraram o barco na areia e fizeram questão de me guiar pela ilha. As ruínas encontram-se do outro lado e fizemos o percurso à volta da ilha pela praia. Mais aves, muitas aves, barcos de pescadores, caranguejos, e muitas alforrecas mortas na areia!
Praia da Xefina
Praia da Xefina
Alforrecas
Pouco depois encontro as primeiras ruínas. Casas parcialmente destruídas e ao mesmo tempo relativamente bem conservadas, enterradas e submersas na areia e mar. Parecia estar a caminhar num cenário de um filme! Tal como acontece na costa portuguesa, o mar aqui tem reclamado a praia. Os edifícios da base militar parecem simplesmente ter sido remexidos pela maré!
Ruínas da Base Militar
Ruínas da Base Militar
Ruínas da Base Militar
Ruínas da Base Militar
Ruínas da Base Militar
Fascinado, acabei por abandonar a praia apenas pela insistência dos meus guias. Desta vez regressamos por um caminho atravessando o bosque interior. Mesmo no meio da ilha, eis que surge mais um cenário fascinante. As ruínas da prisão que por sua vez estão a ser reclamadas aos poucos pelo bosque! Fiquei apenas a imaginar como teria sido a prisão em pleno funcionamento. As inúmeras celas compactas que agora parecem albergar muitos morcegos! Um edifício grande que parece ter sido a cozinha. Um salão com o brasão de Portugal. E uma enorme casa de luxo com piscina, talvez para o militar da mais alta patente.
Ruínas da Prisão
Ruínas da Prisão
Ruínas da Prisão
Ruínas da Prisão
Ruínas da Prisão
Mais uma vez abandonei o local apenas pela insistência dos meus guias preocupados pela maré baixa que se aproximava. Continuando pelo bosque, ainda demos com uma pequena aldeia. Os habitantes da ilha são pouco mais de uma dúzia de pescadores residentes e um par de militares que os meus guias aparentavam evitar.
Praia da Xefina
Praia da Xefina
Flamingos
De volta à praia das aves, o barco estava de facto estacionado na areia depois do mar ter descido. Apressamo-nos a empurra-lo para a água e regressar rapidamente. Acabou por ser um pouco tarde demais, pois a meio o barco encalhou na areia. Felizmente a viagem não era longa e não tivemos dificuldade em fazer os últimos metros a pé!
Cidade de Maputo

Filipe Tavares


PRÓXIMA CRÓNICA: [VIVER EM MOÇAMBIQUE IV]

24 janeiro, 2012

VIVER EM MOÇAMBIQUE II

Cidade de Maputo

A baía de Maputo foi explorada pelos portugueses pela primeira vez em 1545. O responsável da expedição foi o navegador Lourenço Marques, facto que acabou por dar nome à região e à cidade que se formou. Rapidamente se estabeleceram aqui colónias comerciais mas foi só no século 18 após a descoberta de ouro e diamantes na vizinha África do Sul, que Lourenço Marques prosperou. Com a construção de uma linha férrea entre Lourenço Marques e Pretória e com a expansão do porto marítimo, Lourenço Marques acabou por substituir a Ilha de Moçambique como capital da colónia em 1898. Nos anos 50 e 60, a cidade atingiu o seu auge como centro cosmopolita. Após a independência, a cidade mudou o seu nome para Maputo, e assim como o nome, muito mudou transformando-se na cidade que encontro hoje.
Conselho Municipal de Maputo

Samora Machel na Praça da Independência

Quando viajo de férias, a passagem pelas capitais é sempre obrigatória. Reservo sempre alguns dias para as visitar acabando por escrever também um pouco sobre elas. Pois eu já estou em Maputo há alguns meses e sinto que ainda me falta conhecer muito da cidade, da sua história, e dos seus habitantes. Na verdade, ainda me sinto um pouco forasteiro!
Café Continental

Prédio na Baixa

A maior parte da construção que se encontra no centro de Maputo é a mesma da era colonial, embora tudo esteja mais degradado e com um ar do outro lado do tempo. Passear em Maputo torna-se uma experiência nostálgica para um Português mesmo que não tenha vivido os tempos áureos de Lourenço Marques.
Praça de Touros

Estação de Comboios

É como uma cidade fantasma, que entretanto foi ocupada por gente de outro tempo. Dou por mim a olhar para os edifícios antigos e a imaginar o passado. Entro neles e viajo mesmo para trás. No antigo edifício dos correios, escrevo à mão, compro um envelope e colo selos com dezenas de anos! No teatro Gil Vicente vejo um filme numa sala gigantesca, sentado entre cadeiras de pau meias partidas, com uma imagem de pelicula cheia de rabiscos, e com um toque de sinos para avisar que o filme está prestes a começar! Eram mesmo sinos ou uma gravação deles! Se não os ouvisse, já nem me recordava deles no velho cinema de Ovar!
Teatro Gil Vicente
Antigo Cemitério dos Portugueses

Apesar dos edifícios antigos a cidade está bem viva. Não é preciso visitar o resto do país para perceber que Maputo é um mundo à parte e que aqui tudo se encontra e tudo acontece. Nada me falta aqui. Vivo na Avenida Eduardo Mondlane, uma das maiores e mais emblemáticas da cidade. Ocupo um espaçoso T2 no 3º andar de um velho prédio. As portas e janelas estão barricadas com grades e redes contra ladrões e mosquitos! Apesar de forasteiro, não deixo de sentir que é o meu novo lar e sinto-me cada vez mais em casa.
Prédio na Baixa

A minha viatura de serviço, uma carrinha pickup chinesa, passa as noites na rua desprotegida. Foi assaltada logo na primeira noite debaixo dos narizes de dezenas de guardas a quem não pago proteção. Mas com muita simpatia e oferta de roupa usada, alguns já me conhecem e ninguém tem mexido no carro.
Monumento às Vítimas da Primeira Grande Guerra / Praça dos Trabalhadores

O caminho para o trabalho leva-me pelas movimentadas ruas de Maputo. O trânsito é intenso e desordenado, e os hábitos locais de condução testam a minha paciência a toda a hora! Os últimos metros são feitos numa estrada ainda de terra batida dentro do campus da Universidade Eduardo Mondlane. Não trabalho para a Universidade mas as instalações da Televisa ficam lá dentro!
Catedral

Podia escrever mais sobre a minha vida em Maputo e o que já descobri na cidade, mas para já ficam estas primeiras impressões... e fotos.
Avenida Eduardo Mondlane

Filipe Tavares


PRÓXIMA CRÓNICA: [VIVER EM MOÇAMBIQUE III]