23 novembro, 2008

MISSÃO POSSÍVEL 3: MADAGÁSCAR IV

"22h00, 19 de Novembro de 2008, Aldeia de Antsiraraka

Salama!

Tentei escrever ontem mas o barulho dos insectos a embater violentamente do lado de fora da tenda, convenceram-me a apagar qualquer tipo de luz. Apesar da ameaça foi uma noite bem passada. Hoje deixámos o rio para trás e um Hotel de bungalows já me permite recuperar conforto.

Os 3 dias de descida do rio foram uma experiência muito interessante.
Apesar de ser um percurso muito comum entre turistas, foi uma autêntica expedição por zonas selvagens e remotas do Madagáscar. As botijas camping gás e as sopas instantâneas que estou habituado aqui foram substituídas por uma fogueira e por alimentos frescos incluindo 2 galinhas amarradas!

Existem muitas aldeias ao longo do rio, mas não existem estradas nem electricidade. Apenas o barulho dos remos e dos animais da floresta. Foram 100Km de descida com os nossos barqueiros incansáveis. Eu tentei dar uma ajuda mas saí envergonhado contra a experiência deles.

O nosso grupo era constituído pelos 2 guias, pelos 2 barqueiros, por mim, e por um casal espanhol e outro canadiano. Eu que não tenho grande jeito para línguas, acabei por fazer de tradutor entre o castelhano dos espanhóis, o inglês dos canadianos e o francês dos guias.

O aspecto do rio marcado pela terra vermelha é suficientemente sujo para qualquer estranho querer evitar o simples contacto com a água. No entanto, os habitantes locais usam a água do rio para tudo. Lavar a roupa e a louça, tomar banho nas margens sem qualquer pudor, e até mesmo beber. Aos poucos também me fui habituando. Houve alguns momentos especiais durante a descida, mas o que mais me fascinou foi mesmo o contacto com os habitantes. Apenas quando estive no Tibet, tive a mesma sensação de encontrar um povo totalmente tradicional.

Apesar das condições básicas de vida, todos parecem alegres e ainda mais com a presença de estrangeiros. As crianças em especial nunca me deixaram sozinho envolvendo-me sempre nas brincadeiras delas e obrigando-me a tirar-lhes fotografias.

Hoje deixámos o rio e caminhámos para uma aldeia acompanhados pelos carros de Zebu com a nossa carga. Os Zebus são parecidos com os nossos bois e a presença deles no mundo rural é uma constante. Apesar desta nova Aldeia ser maior e mais desenvolvida que as outras ao longo do rio, não fiquei menos fascinado, pelo contrário. Cada vez estou mais encantado com este país e com este povo."


- Filipe Tavares

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