28 novembro, 2007

MISSÃO POSSÍVEL 2: VIETNAME VI

"Depois de muitos dias sempre a correr, abrandei o ritmo de viagem por alguns dias na província de Mondulkiri no leste do Cambodja. A viagem para lá foi das mais atribuladas com a estrada de terra cheia de buracos e poças de lama. Segundo o meu guia de viagem, Mondulkiri é uma zona remota e selvagem. No entanto muita coisa mudou nos últimos 2 anos desde que o livro foi publicado. Tinha imaginado algo completamente diferente. A desflorestação tirou muita beleza da região e toda ela se tornou mais civilizada. No entanto a minha estadia foi das mais agradáveis até agora.
 
 
 
 A região é habitada maioritariamente pelos Pnong, e outras tribos das montanhas. Todas elas têm a sua própria linguagem e a sua própria maneira de viver. O elefante faz parte das suas culturas e aqui sempre foi utilizado para transportar pessoas e carga, bem como para outros trabalhos. No entanto actualmente os elefantes domésticos reduzem-se a cerca de 60 espécimes e todos os anos esse número fica mais reduzido. Os habitantes consideram os elefantes uma coisa do passado e já não se preocupam em cria-los nem em tratá-los convenientemente. O turismo veio dar algum valor a estes animais mas mesmo assim continuam a não ser bem tratados. Jack, um Inglês, comprometeu-se a trabalhar na preservação dos elefantes, primeiro na Tailândia e agora na comunidade dos elefantes domésticos de Mondulkiri.
Ele criou a sua própria organização e o seu objectivo é proteger uma parte da selva da constante desflorestação que tem ocorrido na zona, para que os elefantes possam ter um local para viver. Ao mesmo tempo educar os Pnong a dar o devido valor aos seus elefantes e a ajudá-los nos seus cuidados. Começou já a construção de um hospital para elefantes, e de um centro de visitas que servirá para formação e recepção dos eco-turistas. Actualmente, Jack também promove passeios de elefante como os outros guias de Mondulkiri, mas tenta ao mesmo tempo dar a conhecer o animal aos visitantes. No final o passeio termina com uma lavagem do animal num rio, que infelizmente não me foi possível fazer. Montar e conviver um pouco com um elefante foi simplesmente fantástico!
A minha estadia mais alongada permitiu-me conhecer melhor a região, os seus habitantes nativos, os estrangeiros que nela trabalham, e outros viajantes. Na minha viagem para Mondulkiri tive a sorte de conhecer um grupo de pessoas com quem partilhei a minha estadia. Especialmente criei alguma amizade com Nuria, uma espanhola de Alicante que reservou 4 meses para viajar. Juntos trabalhámos com os elefantes e com os Pnong.
Alem de Jack, conheci outros estrangeiros que trabalham no Cambodja há bastante tempo e que me deram a conhecer muitas histórias do país. Fiz imensas coisas em Mondulkiri. Desde caminhadas pela selva, até conduzir uma moto à maior cascata do Cambodja com uma queda de água de 25m. Passei um dia com os Pnong, ajudei a apanhar arroz, a separar a casca, almocei e até dormi a sesta com eles numa das suas pequenas casas que parece ser um hábito de toda a família. Ajudei a construir um telhado de uma das casas, e conduzi uma pickup pelos duros caminhos da montanha carregada com tijolos. Participei numa festa popular cheia de nativos curiosos. E na última noite até tomei conta de um restaurante e dos dois cães da sua dona que teve de ir a Phnom Penh. Felizmente não apareceu nenhum cliente!
 
 
 
 
 
Já não me restam muitos dias e ainda me falta visitar o norte e o centro do Vietname. Apesar de Mondulkiri estar muito próxima do Vietname, não existe fronteira para eu atravessar. A estrada para norte está intransitável mesmo por mota. E alem disso descobri que na fronteira terrestre entre o Laos e o Cambodja, não é possível requisitar o visto. Resta-me então o mesmo caminho de regresso ao Vietname. 3 Dias seguidos de autocarro! Para ganhar algum tempo decidi então voar amanha para Hanoi. É com muita pena que abandono o Cambodja. Agora começava a sentir que estava realmente a conhece-lo."

- Filipe Tavares

PRÓXIMA CRÓNICA: [MISSÃO POSSÍVEL 2: VIETNAME VII]

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Se ficasses mais tempo, talvez parte da magia se evaporasse. Já leste Bruce Chatwin? Aconselho vivamente. Acho que encontrarás muitas parecenças entre os teus relatos de viagem e os que ele nos deixou de viagens memoráveis.

29/11/07, 08:34  

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