INDONÉSIA V

"14h00, 4 de Outubro de 2009, Jacarta, Ilha de Java

Selama Siang

De todas as 17000 ilhas da Indonésia, Java é a rainha. Foi o povo dessa ilha que dominou e acabou por unificar todas as ilhas do arquipélago num mesmo país. Com cerca de 120 milhões de habitantes é a ilha mais populosa e é aqui que se define o destino político e económico da Indonésia.

Apesar de ter preferido dedicar o meu tempo de viagem noutras ilhas, tinha sempre que passar por Java pois o meu voo de chegada e regresso a Portugal é a partir de Jacarta. Sai de Borneo apenas com dois dias de antecedência e apesar de ter sido uma visita muito curta, fiquei surpreendido com o que consegui encontrar.

Em Pangkalan Bun na ilha de Borneo apenas consegui voo para a zona central de Java, e em vez de ir directamente para Jacarta decidi aproveitar um dia em Yogyakarta. Esta cidade é considerada a capital cultural da Indonésia onde as artes e as tradições são as mais fortes. Aqui descubro um palácio de um sultão que ainda hoje é habitado pelo último sucessor mantendo o título de príncipe da cidade. Ainda dentro do palácio, descubro uma das artes tradicionais de Java ao assistir a um espectáculo de música e teatro de sombras.

Não muito longe existe um edifício especial também pertencente ao sultão. É conhecido por castelo de água e foi construido por um arquitecto português. No final da construção foi executado para que apenas o Sultão conhecesse os segredos do castelo. Apesar disso não parece haver rancores e em 2004 a fundação Calouste Gulbenkian apoiou a sua reabilitação. Foram os locais com muito entusiasmo, que me chamaram à atenção para a inscrição em Português assinada pelo actual Sultão e pelo administrador da nossa fundação.

Para terminar ainda visitei o mercado das aves da cidade. Pensava encontrar apenas as típicas aves de criação e algumas de estimação. Mas tal como no mercado em Sulawesi, encontrei algumas surpresas, talvez os animais mais exóticos que alguma vez vi serem vendidos como animais de estimação!

Actualmente a população de Java é maioritariamente muçulmana mas antes dessa conversão, o império de Java conheceu o Budismo e o Hinduísmo. Em redor desta antiga cidade, encontram-se os melhores exemplos dessa herança.

O templo budista de Borobudur foi construido nos séculos VIII e IX. Pouco depois o Budismo entrou em declínio e o templo foi abandonado. Assim ficou debaixo de camadas de cinzas vulcânicas até ser descoberto pelos colonizadores holandeses em 1815. É uma construção impressionante!

Ao longe parece uma grande pirâmide. Ao perto é possível vislumbrar mais de mil painéis esculpidos e centenas de estátuas de Buda.

Uma construção um pouco mais recente, os templos Hindus de Prambanan datam do século IX. Tal como Borobudur, os templos permaneceram abandonados em ruínas até muito recentemente. No total são 244 edifícios dedicados ao deus Shiva!

De Yogyakarta, apanho um comboio nocturno e chego a Jacarta de madrugada no dia do meu regresso. A capital da Indonésia não é considerada dos melhores destinos turísticos da Indonésia. Mas eu ainda tinha algum tempo antes do voo e faço um último passeio pela cidade enquanto me despeço da Indonésia. No museu da história da cidade encontro uma sala toda ela dedicada aos portugueses e às suas primeiras explorações na ilha de Java. E no centro da sala lá estava o Padrão com a esfera armilar dos descobrimentos erguida pelos exploradores portugueses no século XVI!

Agora chegou a hora de ir para o aeroporto. Naturalmente reflito em tudo o que vivi e conheci nestas últimas 3 semanas e o balanço é muito positivo. Por um lado tenho gosto em regressar mas por outro sinto que a viagem ainda agora estava a começar. A Indonésia é um país gigantesco e apenas limitei-me a conhecer algumas partes, todas elas completamente distintas. Agora no regresso questiono-me quantos mais tesouros se escondem nestas ilhas. Talvez para uma próxima descoberta."

Filipe Tavares